Em 16/04/2013, no briefing room da White House, Obama estava sob o impacto emocional da tragédia do atentado à Maratona de Boston, que matou 3 americanos e feriu mais de 260. Seu inconsciente sem mediação revelou-se nas suas palavras, que quando analisadas assumem a maior importância:
"Sempre que bombas são usadas para alvejar civis inocentes, é um ato terrorista".(“Any time bombs are used to target innocent civilians, it is an act of terror”).
No domingo um drone Americano matou 30 pessoas que participavam de um casamento no Afeganistão. Foram ‘confundidas’ com terroristas. Num sábado, outro drone Americano assassinou 10 crianças que brincavam na rua.
Obama, cesse o seu, e todo terrorismo cessará por si próprio.
Obama também disse no briefing room: “Nós encontraremos seja quem for que atingiu nossos cidadãos, e nós os levaremos à justiça. Nós também sabemos que: O povo Americano recusa-se a ser aterrorizado”. (“We will find whoever harmed our citizens and we will bring them to justice. We also know this: The American people refuse to be terrorized.”). (Newsmark, 16/04/2013, 10:16 AM).
Existem mais de 7000 drones Americanos em ação militar no Iraque, Afeganistão e outros países árabes, guiados desde o solo por pilotos-funcionários revezando-se confortávelmente e sem qualquer risco a cada 8 horas em regime de 24 horas por dia, a partir de Houston e outras bases Americanas, agindo contra a vida de outros seres humanos desprezados em seus mínimos direitos. Artigos do Die Welt de meses atrás afirmam que em um caso, para atingir um líder inimigo, o ‘target killing’ através dos drones em várias tentativas, matou cerca de 116 pessoas. Vizinhos, parentes, mulheres, crianças.
O especialista consultado pelo Die Welt mostrou que está sendo colocada em curso uma mudança brutal nas guerras, contra a qual muitos compatriotas de Obama se manifestam frequentemente. Trata-se de um novo crime de guerra, tratar pessoas como formigas incômodas. Mas no governo de Obama os drones atingiram o ápice do seu uso continuado, até o momento.
Como entender então o fenômeno Obama?
Obama foi uma grande sorte para a Nação Americana e para o Mundo dilacerado por Bush. O Povo Americano ao elegê-lo pela primeira vez, derrubando preconceitos seculares, mostrou que em sua maior parte é contra a guerra, a mentira e o crime, e que queria um basta. Obama foi a melhor solução, e sua história peculiar é como se mostrasse que o Destino intervém na História. Mas Obama não foi inteiramente o que o seu Povo e o Mundo esperavam. Desviou-se quanto a:
(1) encerrar guerras;
(2) Guantánamo;
(3) o discurso do Nobel da Paz (que teria sido melhor recusá-lo);
(4) o assunto legalização da tortura;
(5) o abuso dos drones e do ‘target killing’.
Mas não se duvida ter sido Obama melhor que qualquer Republicano ou Democrata, à exceção talvez de um Ron Paul, que é manifestadamente contra a guerra e o endividamento gravíssimo dos EUA, embora não inteiramente contra o capitalismo especulativo e predador de Wall Street.
Porque Obama agiu como agiu após a primeira eleição?
Obama demonstra ser um raro gênio político Americano, com habilidade e capacidade discursiva ímpar. Mas subordinou-se à conveniência das elites políticas Americanas, a Wall Street, ao Complexo Industrial Militar. Assim, teve que manobrar até para poder ser reeleito.
Mas agora Obama está há 100 dias no seu segundo mandato. Não haverá outro mandato, e ele não tem mais necessidade de atender a essas conveniências.
Se quiser, Obama pode agora agir como um verdadeiro Estadista, aquele cujos atos trazem influência fundamental na História, representando realmente uma mudança de um mau rumo.
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Obama não é realmente um ‘leftist’, como suspeitam seus radicais adversários do GOP (Great Old Party, o Partido Republicano). Como com fortes argumentos tenta provar Dinesh D’Souza em seu livro, acusando-o de ser doutrinariamente um ‘anticolonialista’, pelas influências do seu pai Africano, de sua mãe e de seus mentores e formadores no Havaí e em Columbia.
Não, não há esquerdistas de peso nos EUA. Mas, apesar do ‘Orgulho Americano’, Obama não está inteiramente fanatizado pela doutrina do ‘Excepcionalismo Americano’, defendida pelo GOP e até por alguns libertários Americanos atuais. Então Obama ainda pode trazer transformação benéfica ao Mundo.
Hailé Selassié disse certa vez: “Até que a filosofia que suporta uma raça superior e outra inferior seja finalmente e permanentemente desacreditada e abandonada, a guerra estará em todos os lugares”. (“Until the philosophy which holds one race superior and another inferior is finally and permanently discredited and abandoned, everywhere is war”).
Chega de conflitos. A epidemia que mais cresce no Mundo é a violência. Mas é possível avançar no roteiro sem guerrear ninguém. As ideias jamais se opõem, o que se opõem são personalidades. Brecht também já disse: “Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama de violentas as margens que o oprimem”.
A despeito de Obama sempre afirmar o contrário, os EUA estão cada vez mais em guerra contra o Islã. Um governo imperial não deve nunca guerrear contra uma religião, pois estará se destruindo sem nada destruir. Um apoia-se nas organizações e ações políticas, que têm uma duração limitada, a outra se apoia em ideias filosóficas espiritualistas, que não se extinguem.
A última vez que esse tipo de guerra foi tentado foi no século III DC, quando o imperador Diocleciano decidiu erradicar a nascente religião cristã, impondo aos romanos o retorno às práticas religiosas dos seus ancestrais. Foi essa a circunstância de São Jorge, o único da sua elite que o contrariou. Naquele tempo, contrariar o imperador era crime de lesa majestade, lesa pátria. São Jorge foi martirizado e decapitado, mesmo sendo da elite preferida de Diocleciano. São Jorge demonstrou ser um pacifista, pois tendo até oportunidade de matar o imperador, não o fez, porque isso não solucionaria e sim pioraria a situação dos seus irmãos cristãos primitivos. Assim preferiu ser martirizado. Diocleciano no fim de sua vida se arrependeu, e mudou a cabeça do Império do Mal: seu sucessor resolveu simplesmente fazer um movimento contrário e inusitado – Estatizou a fé cristã, pensando aproveitar para com isso frear a decadência do Império Romano. Vejam na realidade que ele não conseguiu impedir a decadência, mas transferiu o poder político multinacional à Igreja Católica Apostólica Romana, que sobrevive com nova forma ao Império Romano há milênios na Civilização Ocidental. Devemos a São Jorge o fato de o Ocidente hoje ser cristão. Aliás, o dia de São Jorge passou nesse 23 de abril.
Não se deixe Obama arrastar pelos interesses em jogo, pois como dizia Eduardo Galeano: “Los grandes médios de comunicacion dispuestos a inventar enemigos imaginários para justificar la conversion del mundo em um gran manicómio, en un inmenso matadero”.
Obama deve ver que esse enfoque contra o Islã não prospera, e disso afastar o Ocidente, fazendo uma paz ampla, digna e respeitadora das diferenças. Obama deve escolher se vai proceder como um imperador ou como um homem honesto, já que ele não é um homem mau pela índole.
A sabedoria sagrada da Índia já dizia há milênios: “Os Imperadores são atraídos pelas guerras como as moscas pelo sangue; os maus se comprazem na luta; os homens honestos devem se afastar dos Imperadores, das moscas e dos maus”. (The Emperors are attracted to wars like flies by blood; the bad men love the fight; honest men should turn away from the Emperors, the flies and the bad men”.
Buckyminster Fuller, um grande filósofo Americano também disse: “ You never change things by fighting the existing reality. To change something , build a new model that makes the existing model obsolete”.